texto publicado originalmente em 14 de agosto 2013 no site #ElasComentam

A sétima etapa da Stock Car disputada em Ribeirão Preto durante o fim de semana poderia ter tido facilmente uma trilha sonora: “Poeira”, de Sergio Reis. Resgatando algumas raízes do interior paulista, lembrei-me de que a música fala de um carro de boi que vai levantando poeira, poeira vermelha no sertão. No caso do automobilismo quem levantou muita poeira vermelha, mas no asfalto e com carro de turismo, foi Thiago Camilo (Ipiranga-RCM). Depois da largada ele passou de quinto para o terceiro lugar e com as ultrapassagens sobre Átila Abreu (Mobil Super Pioneer Racing) e Max Wilson (Eurofarma RC) nas voltas finais, o piloto do carro #21 conquistou a primeira vitória do ano e a 14ª na carreira.
Apesar de a corrida ser disputada em Ribeirão Preto pela quarta vez, o traçado agora é outro. A pista deixou de ser do lado do Mercadão, na zona sul, e foi para o Distrito Industrial, zona norte da cidade. A mudança fez diferença: como as ruas do novo circuito eram mais largas, foi possível acompanhar várias ultrapassagens e disputas por posições. Nas provas anteriores isso praticamente não existia porque a pista era estreita e sair nas primeiras filas era o que costumava garantir um bom resultado.
E falando em novidades, quem também era a atração da prova de Ribeirão era o “Pé Vermelho”(*) das pistas, Helio Castroneves. Apesar da maioria das pessoas acharem que ele é nativo da Califórnia Brasileira, ele nasceu em São Paulo. Com dois anos de idade, foi com a família para a cidade localizada no centro do estado. Viveu lá até 1995 quando se mudou para a Inglaterra, para disputar a Fórmula 3 Britânica. Seu Helio e dona Sandra vivem em Ribeirão Preto até hoje.
Mas, quiseram os deuses da velocidade (sim, sempre eles) que o piloto da Penske, líder do campeonato da Fórmula Indy, não disputasse a corrida em casa. Na sexta-feira anterior à prova, a bordo do carro da equipe Shell Racing/A. Mattheis Motorsport, Castroneves participava de um treino extra, justamente por ser convidado da categoria. Na reta, a 180 km/h, ficou sem freios, bateu no muro paralelo à pista e depois na barreira de proteção a 101 km/h. (Muro esse que, segundo a assessoria de imprensa do piloto, ele tinha apontado na quinta-feira como um ponto perigoso na pista.). O resultado: três pontos na canela, dores musculares e o veto do diretor médico da categoria, Dino Altmann.
Há quem diga que o problema com Castroneves foi muito ruim para a imagem da Stock Car. E que para ele correr na categoria, disputando um campeonato internacional, era um risco. Mas, mesmo com o acidente e fora da prova do domingo, todo mundo só falava dele e se tornou o centro das atenções. No final das contas, Helio assistiu a corrida na cabine de transmissão da TV Globo e ficou na função de comentarista convidado, ao lado de Sérgio Mauricio e Reginaldo Leme. E não é que ele até se saiu bem!?
A ideia de trazer pilotos internacionais para disputar campeonatos no Brasil sempre chama a atenção da mídia (e do público) e deveria ser melhor aproveitada. Isso me faz lembrar o final do ano passado com a Corrida do Milhão, em Interlagos. Assim como em Ribeirão Preto, os ingressos se esgotaram rapidamente porque na pista também estavam três pilotos que disputaram o campeonato da Indy em 2012: Helio Castroneves, Rubens Barrichello e Tony Kanaan. Todo mundo queria vê-los, estar perto e guardar uma lembrança. E isso sempre atrai muita gente para os autódromos.
A vitória em Ribeirão Preto levou Thiago Camilo ao terceiro lugar no campeonato, com 112 pontos. O novo líder é Cacá Bueno (Red Bull Racing) com 124 pontos, e Ricardo Maurício (Eurofarma RC), ocupa o segundo lugar, com 123 pontos. Faltando cinco provas para o fim da temporada, a briga pelo título está cada vez mais acirrada. A próxima etapa será disputada em Cascavel, no Paraná, no dia 01 de setembro.
Fotos: Duda Bairros/Stock Car
(*) “Pé Vermelho” ou “Caipira” significa que a pessoa é do interior dos estados de São Paulo, Paraná ou Goiás. No livro “O Caminho da Vitória” (Ed. Gaia, 2011), Helio Castroneves conta que em São Paulo, aos 12 anos, treinava com cerca de vinte pilotos da mesma idade, entre eles Tony Kanaan, Felipe Giaffone, Bruno Junqueira, Rodrigo Casarini e Enrique Bernoldi. Eles o chamavam de Caipira ou de Pé Vermelho, por causa da terra vermelha de Ribeirão Preto. “Eu fazia de tudo para provar a eles que, mesmo sendo um Pé Vermelho, era um Pé Vermelho bom”. (Acho que ele conseguiu!)
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