quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Blue Eyes Blue


Faltavam pouco mais de quinze minutos para a uma da tarde desta quarta-feira, dia 13 de agosto, quando ouvi na redação que Eduardo Campos, candidato à presidência pelo PSB, estava na aeronave que caiu em Santos, no litoral paulista. Naquele momento, pensei naquelas pessoas que perderam suas vidas, nas famílias, nas pessoas que se machucaram, naqueles que ficam com a dor da perda...

Nestas décadas de vida, já acompanhei (jornalisticamente falando) três acidentes aéreos. O da Gol, em 2006, o da TAM, em 2007 e agora com a equipe do Eduardo Campos. Sempre penso que ali poderia estar eu, você, alguém da minha família, um amigo próximo, algum conhecido ou alguém que nunca vi na vida. Não importa. Toda vez que acontece um acidente de avião fico triste de um jeito que não tem explicação... o coração dói, o peito aperta, é impossível não deixar uma lágrima escorrer pelo rosto e pedir a Deus que conforte as famílias neste momento.

Não sou de falar de política, mas talvez depois do esporte, é a segunda área do jornalismo que gosto de acompanhar. Viver em Brasília me deixou mais perto do Congresso, dos projetos de lei, das lideranças políticas, dos anexos da Câmara e do Senado, das Comissões Parlamentares...etc. Desde 2002 acompanho as eleições e depois de tanto tempo ficamos mais do que acostumados que a cada dois anos vamos conviver com as agendas dos candidatos, regras do TSE, pautas sobre o processo eleitoral.

E hoje, o que aconteceu com o Eduardo Campos, me fez pensar que estamos sempre mais perto da morte do que imaginamos. E por isso, precisamos muito celebrar a vida. Ontem, o candidato entrava ao vivo na minha casa (e tantas outras no país) durante entrevista para o Jornal Nacional. No domingo tinha comemorado o aniversário de 49 anos e o dia dos pais com a família. Na tarde desta quarta, estaria em São Paulo para gravar programas eleitorais. E dia 21 participaria do debate na Band...

Lembro-me de quando o neto de Miguel Arraes se tornou ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. Eduardo era o mais bonito de toda a Esplanada dos Ministérios, com aqueles olhos cor de mar do Caribe. Ouvi muitas vezes que ele era uma grande liderança política, inspirado sempre no avô. Tanto que depois do MCT, foi governar o estado de Pernambuco por duas vezes.

Para as eleições deste ano, não me surpreendeu quando Campos anunciou que seria candidato. O PT o queria como vice da presidente Dilma e ele, que não queria ser o segundo, decidiu que iria disputar a presidência do país. A união com Marina Silva, que conquistou quase 20 milhões de votos na última eleição geral, faria o governador ser mais conhecido no eixo Sul-Sudeste. Sempre tive a impressão de que eles não tinham unanimidade em muitos temas, mas a ex-ministra do Meio Ambiente resolveu se unir a uma campanha, que ao meu ver, poderia tirar eleitores de Dilma.

O que me vem à cabeça neste momento é o cenário eleitoral que deve sim se alterar com a ausência de Eduardo Campos. Segundo o TSE, o partido tem 10 dias para indicar um novo nome para concorrer à presidência. Não acredito que o PSB e os demais aliados vão tirar Marina da disputa. Até porque, mesmo com esse triste episódio, o país todo passou a saber quem era Eduardo Campos e vai associá-la a ele a partir de agora.

Se hoje pudesse arriscar o que aconteceria na campanha, diria que Marina vai ultrapassar Aécio Neves e se tiver segundo turno, vai disputar com a presidente Dilma o posto mais alto do executivo. E poderá chegar longe... Não foi no Chile em que duas mulheres (Michelle Bachelet e Evellyn Matthei) foram para o segundo turno? Talvez Marina, nesse momento de comoção nacional, acabe conquistando alguns votos dos indecisos porque tem carisma e assim conquiste eleitores que seriam de Dilma e de Aécio. Mas, justiça seja feita: Eduardo Campos fazia um papel muito mais articulador do que ela. Ao longo dos anos construiu as alianças políticas, mas não perdeu de vista a possibilidade de se tornar candidato à presidência da República pelo PSB.

Por mais que as pessoas tenham divergências políticas, diferenças de opiniões, lembremo-nos de que acima de tudo somos seres humanos. Nessas horas, se você é do partido A ou B, vota no candidato C ou D, é o que menos importa... Que nesse momento de dor, de tristeza, Deus possa confortar as famílias desses homens, que também eram pais, filhos, irmãos. Que assim como nós, estavam no exercício da profissão.

Sei que a música foi feita em outro contexto, mas hoje um trecho de Blue Eyes Blue, de Eric Clapton não me saiu da cabeça . Por isso dei ao post esse título

It was you who put the clouds around me (Foi você quem colocou a tristeza ao meu redor)
It was you who made the tears fall down (Foi você quem fez minhas lágrimas caírem)
It was you who broke my heart in pieces (Foi você quem fez meu coração em pedaços)
It was you, it was you (foi você, foi você)
Who made my blue eyes blue (quem fez meus olhos azuis tristes)

Fica aqui o clipe como minha homenagem. E que amanhã seja melhor do que hoje.



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