quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O ano da Mercedes

Texto originalmente publicado no site Conexão Fut:
Rosberg Mercedes GP Montreal 2014 - Sutton Images
A primeira metade do campeonato mundial de Fórmula 1 deixou evidente que até agora há duas competições paralelas: a das Mercedes e a das outras equipes. A equipe venceu nove vezes em 11 provas, e espera bater o recorde da Red Bull no ano passado, que venceu 13 das 19 etapas, todas com Sebastian Vettel. Com 393 pontos, a Mercedes se distancia cada vez mais da equipe rubro-taurina, segunda colocada e atual campeã do mundial de construtores.
É certo que o título deste ano irá para o time de Brackley. Os carros da escuderia alemã já somam sete dobradinhas. Mas o que dá emoção à temporada é tentar saber quem vai conquistar o título de campeão mundial: Nico Rosberg, que está na equipe desde o início em 2010, ou o inglês Lewis Hamilton, campeão da temporada de 2008? Por enquanto, o alemão se mantém a frente com 202 pontos, enquanto o inglês soma 191.
Nesta mesma época, em 2013, quem dominava o campeonato era Sebastian Vettel. Quando as férias da F1 chegaram, o alemão era líder isolado e tinha uma boa vantagem para segundo e terceiro colocados, que eram Kimi Raikkonen, da Lotus, e Fernando Alonso, da Ferrari – e que hoje são companheiros de equipe. Após 10 corridas daquela edição, Vettel havia conquistado quatro vitórias, com sete aparições no pódio. E, aos 26 anos, com três etapas de antecedência, tornou-se o mais jovem tetracampeão da Fórmula 1.
A hegemonia da Red Bull teve início na temporada de 2010, com o primeiro campeonato do alemão. Antes, na temporada de 2009, ele já havia lutado até o final pelo título, que ficou com Jenson Button e a BrawnGP. À época, a equipe inglesa venceu tudo e mais um pouco. Uma polêmica na época era o uso do difusor duplo (que canalizava o fluxo de ar vindo por baixo do carro e aumentava a aderência aerodinâmica). O carro da Brawn já nasceu com esse componente, enquanto as demais equipes tiveram de adaptá-lo durante a temporada.
Em 2010, Vettel entrou para a história ao conquistar o campeonato mundial e ser o campeão mais jovem de todos os tempos, com 23 anos e 4 meses. No ano seguinte, foi bi – e ainda quebrou o recorde de 15 poles positions em uma temporada, marca que pertencia ao inglês Nigel Mansell, de 14 largadas na frente em 1992. A temporada de 2012, aquela em que sete pilotos diferentes venceram as sete primeiras corridas, foi muito disputada, como há tempos não se via. Vettel conquistou o tricampeonato no GP do Brasil com a vantagem de três pontos sobre o espanhol Fernando Alonso.
Os recordes e os títulos de Sebastian são, sem dúvida, méritos de um jovem alemão, de muito talento e que vem de uma escola alemã que tem como principal mestre Michael Schumacher. E que, juntos, somam onze títulos, três a mais do que o Brasil. Mas todas as vezes em que se muda o regulamento algumas equipes têm dificuldades para se adaptar. Isso é fato na história da F1. Neste ano, algumas das mudanças foram a escolha dos números, a alteração do bico dos carros, a volta dos testes durante a temporada e um sistema de penalização de pontos na carteira.
Talvez a mais significativa delas tenha sido a mudança nos motores – e que havia sido anunciada em 2011. Eles passaram a ser V6 turbo de 1,6 litros em substituição aos motores V8 aspirados de 2,4 litros. Até o som dos carros ficou diferente. Com motores menores, os monopostos adotaram o sistema de recuperação de energia – isto é, além de capturar a força na frenagem, o ERS (Energy Recovery Systems) fornece mais energia ao carro, já que armazena o calor liberado pelos motores turbo. Além disso, os tanques de combustível passaram de 140 para 100kg.
Os testes da pré-temporada, realizados em janeiro, mostraram que o desempenho do W05, da Mercedes, foi muito superior ao das outras equipes, enquanto o RB10 tinha muitos problemas. O próprio Sebastian Vettel chegou a declarar que era uma fase em que “quando se livravam de um problema, logo vinha outro”.
Adrian Newey, projetista da equipe, sentiu dificuldades em encontrar um bom acerto, reconheceu que houve demora no desenvolvimento e preparação dos carros. Mas aos poucos a equipe tenta melhorar o desempenho para quebrar a hegemonia da Mercedes na temporada: conquistou duas vitórias com o Daniel Ricciardo (no Canadá e na Hungria) e é a segunda colocada no campeonato mundial de construtores.
Ver o companheiro de equipe à frente na classificação é uma situação nova para Vettel. O alemão está na 6ª colocação, com 88 pontos, e até agora os seus melhores resultados foram dois terceiros lugares, nos GPs da Malásia e do Canadá. Enquanto isso, o companheiro Riccardo tem 131 pontos, está na terceira posição e, além das duas vitórias, já esteve outras três vezes no pódio, como terceiro (Espanha, Mônaco e Inglaterra). O segundo piloto deixou o primeiro para trás e mostra que, neste ano, a disputa está mais aberta dentro da equipe. Afinal, não foi assim durante anos na Red Bull, quando o companheiro de equipe era o também australiano Mark Webber?
Uma equipe que cresceu nesta primeira metade da temporada é a Williams, terceira entre os construtores. O time de Grove contratou Felipe Massa para ajudar no desenvolvimento do FW36 e manteve Valtteri Bottas na equipe. O brasileiro teria tudo para estar bem – já que conquistou uma pole position na Áustria e tem 40 pontos -, mas ocupa a 9ª colocação. Alguns erros de Felipe, somados aos de estratégia e de pit stops da equipe, e um pouco de falta de sorte, estão deixando Massa atrás do companheiro de equipe. O finlandês está em 5º na classificação, com 95 pontos, e já conquistou três pódios consecutivos – foi terceiro no Bahrein, e segundo na Áustria e na Alemanha. O piloto do carro #77 apontou que as próximas provas, na Bélgica e Itália podem ser favoráveis para a Williams, mas que não tem sido nada fácil acompanhar o ritmo das Mercedes.
O que esperar da segunda metade da temporada? Acirrada competição entre Hamilton e Rosberg? A Red Bull incomodando os adversários e tentando manter o ritmo e Fernando Alonso, incansável, mostrando o talento de campeão ao conduzir a Ferrari até o final das corridas? A Williams crescendo cada vez mais? No final das contas, essa é a Fórmula 1 que todos gostam de ver: disputada, e com emoção do início ao fim. E as próximas serão vividas no dia 24 de agosto, em Spa-Francorchamps, na Bélgica.
Priscila Cestari é jornalista. No Twitter, @prikinder
Foto: Sutton Images

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